segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Carta Aberta Sobre o Encontro de Maracatus - Maceió 2017

Maceió, 23 de outubro de 2017
 
De: Maracatu Baque Alagoano
Para: Maracatus Nação e Percussivos, Público que nos acompanha e Sociedade em geral
 
Esta carta foi a melhor forma que encontramos para explicar os questionamentos que sofremos esta semana acerca da organização e realização do Encontro de Maracatus de Baque Virado – Maceió 2017. Notem que não se trata de uma “Nota oficial” ou “Nota de esclarecimento”, mas de uma apresentação de fatos que eram internos e, para a melhor condução das atividades, serão trazidos a público.

O Maracatu Baque Alagoano foi fundado em abril de 2007, à época retomando a manifestação artístico-cultural maracatu no estado de Alagoas, esquecida após anos e diferentes movimentos, violentos inclusive, de silenciamento da cultura afro no estado. As primeiras ideias do grupo para realização de um encontro de maracatus no estado datam de 2009, com rascunho de um projeto já em 2010, contemplando a subida dos participantes à Serra da Barriga no dia 20 de novembro. À época, a intenção seria trazer maracatus de outros estados para cá como forma de estimular o re-conhecimento da história, cultura e contribuições afro em todo o país, contribuindo para o fortalecimento da identidade afro-alagoana.

Como o Baque e o cenário do maracatu no estado ainda eram muito novos, a ideia ficou maturando. Há novo registro de intenção de realização do encontro de maracatu em ata registrada da Assembleia Ordinária do Maracatu Baque Alagoano em 2012, porém, mais uma vez, a ideia foi deixada para o futuro.

No ano de 2014, alguns de nossos batuqueiros descobriram a existência do evento EncontroS, que reunia grupos de maracatus de baque virado de todo o país, geralmente no feriado de 02 de novembro, em diferentes cidades na região Sudeste. Eles foram à edição daquele ano e identificaram que o evento tinha vários pontos em comum com o projeto do Maracatu Baque Alagoano. Começaram aí as conversas sobre a possibilidade de Alagoas sediar o evento, que nunca tinha ido ao Nordeste e que teria uma grande carga por ser o mesmo local onde ficava o Quilombo dos Palmares, ícone que dispensa apresentações.

Em 09 de junho de 2015, a Prefeitura Municipal de Maceió, através da Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC), lançou o Editais das Artes 2015 Prêmio Eris Maximiniano, para selecionar “propostas para a produção, difusão, circulação, manutenção e capacitação no campo das expressões artísticas e culturais reconhecidas e praticadas na Cidade de Maceió”, ao qual apenas poderiam concorrer grupos ou produtores culturais locais [link: http://www.maceio.al.gov.br/cultura/editaldasartes2015/]. O Maracatu Baque Alagoano debateu e deliberou entre seus integrantes que este seria o momento para apresentar o projeto do Encontro de Maracatus de Baque Virado, conforme era seu desejo de anos, independente do acordo para a realização ou não do evento EncontroS em Maceió.

Em 03 de agosto de 2015, foi confirmado aos integrantes do Maracatu Baque Alagoano pela Comissão Organizadora do EncontroS que o evento de 2016 seria sediado em Maceió, restando apenas o anúncio oficial no evento de 2015, que ainda seria em novembro. As coordenadoras do Baque Alagoano alteraram o projeto a ser submetido ao edital do Prêmio Eris Maximiano para inserir um parágrafo apresentando que, caso aprovado, o Encontro de Maracatus aconteceria em parceria com o evento nacional. O parágrafo foi inserido para deixar claro à Mesa Julgadora o que era este evento e qual era seu público, uma vez que o EncontroS é desconhecido em Maceió. Esta foi a extensão da citação do nome EncontroS na proposta submetida ao edital, pois todo o material – projeto, portfólio e clipagem – apresentado eram exclusivamente referentes ao Maracatu Baque Alagoano.

O resultado foi divulgado em 07 de dezembro de 2015 [link: http://www.maceio.al.gov.br/2015/12/edital-das-artes-prefeitura-divulga-resultado-final/], com aporte de R$ 40.000,00 ao projeto. Um cronograma de pagamento dos recursos foi estipulado em liberação de lotes e a vida seguiu.

Em fevereiro de 2016, organizou-se uma pequena comissão em Maceió para organizar a estrutura do evento, enquanto outros dois integrantes do Maracatu Baque Alagoano passaram a integrar a Comissão Nacional do EncontroS, que deliberaria os encaminhamentos do evento. A partir daí começaram os desgastes referentes à organização, pois o Baque Alagoano não podia contribuir em nada com a escolha da programação e atrações do evento, sendo que foi o Baque Alagoano quem venceu o edital com uma programação pré-estabelecida. Após redação do projeto e reunião do material, o papel do Maracatu Baque Alagoano dentro do escopo do EncontroS 2016 se apresentava apenas como o de mão de obra e financiador do evento.

O Conselho Deliberativo e a Coordenação do Maracatu Baque Alagoano foram excluídos das reuniões para decisão sobre o evento, a Comissão Nacional tratava apenas com seus representantes em Alagoas. Tentativas de aproximação e acordos foram feitas pelo grupo anfitrião, mas não respondidas. Esses problemas internos dificultaram a comunicação entre ambas as partes e isso foi se agravando com o passar do tempo.

Mesmo assim a condução do cronograma do evento continuou e a divulgação do EncontroS em Alagoas foi iniciada, com apoio local do Maracatu Baque Alagoano. Contudo, após atrasos na liberação dos lotes de pagamento do Prêmio Eris Maximiano, amplamente divulgados na imprensa alagoana e contestado por grupos culturais [links:https://alagoar.com.br/atraso-em-editais-preocupa-segmento-cultural/ e https://movacultura.wordpress.com/2016/05/14/carta-a-fundacao-municipal-de-acao-cultural/], em setembro de 2016 fomos comunicados de que o evento estava sendo cancelado em Alagoas, por falta da verba acordada para realizá-lo. A Comissão Nacional fez um comunicado ao público em seu site e redes sociais, como pode ser visto abaixo, informando que o não pagamento do Prêmio inviabilizou a realização do EncontroS em Maceió, e que o evento voltaria no ano seguinte em novo lugar.


Assim, a pequena comissão de estrutura em Maceió se desfez, os integrantes que integraram a Comissão Nacional se afastaram e o Maracatu Baque Alagoano ficou sem mais informações sobre o EncontroS.

No começo de 2017, antes da Assembleia Ordinária do Baque Alagoano, nossa Coordenação tentou novamente contato com os representantes nacionais de EncontroS, por diferentes meios e diferentes datas, preocupados com o silêncio deles e buscando saber se a equipe ainda tinha interesse em organizar o evento em Alagoas. A resposta do interesse positivo da Comissão Nacional pela realização do EncontroS em Alagoas, com ou sem a verba devida, veio por terceiros. Nenhum outro contato direto foi respondido e as tentativas de aproximação com esses integrantes foram em vão, mesmo informando enfaticamente que as pessoas que os representaram durante as tratativas de organização em 2016 haviam se afastado do grupo.

Diante das dificuldades apresentadas, o Maracatu Baque Alagoano, em Assembleia Ordinária com seus integrantes em 17 de março de 2017, decidiu por unanimidade pelo fim da parceria e a realização do Encontro de Maracatus de Baque Virado conforme planos tecidos desde 2009, apresentados no bojo do projeto ao Eris Maximiano. Neste momento, havia apenas a promessa do pagamento por parte da Prefeitura, mas o grupo decidiu por fazer seu evento de qualquer forma, aproveitando que em 2017 se completava 10 anos da retomada do maracatu em Alagoas, marcada pela fundação do grupo.

Em abril de 2017, a Fundação Municipal de Ação Cultural procurou novamente o Maracatu Baque Alagoano para informar que o pagamento do Prêmio Eris Maximiano seria efetuado, mas para isso era preciso atualizar o projeto apresentado em 2015 para os custos 2017. Neste momento, a FMAC foi informada sobre a dissolução da parceria com a equipe nacional, mas da intenção de seguir realizando o Encontro de Maracatus de Baque Virado. A Fundação informou que o Maracatu Baque Alagoano, enquanto propositor do projeto e grupo contemplado no Prêmio Eris, tinha o direito de aditar o projeto, contanto que o objeto do mesmo – um Encontro de Maracatus de Baque Virado em Maceió e Região Metropolitana – não fosse alterado. Este projeto foi revisado e aprovado pela FMAC, seguido da liberação dos R$ 40.000,00 referentes ao Prêmio Eris Maximiano, no mês de maio de 2017.

Todos esses fatos apresentados expõem que o Maracatu Baque Alagoano não agiu de má-fé ou cometeu desvio de nenhum tipo referente à organização do EncontroS e sua Comissão Nacional. Tentamos contato por diversos canais e em diferentes momentos, apresentando-nos como as pessoas que realmente estavam encarregadas da tarefa de organizar o evento em Alagoas. Em nenhum momento o projeto apresentado em 2015 ou alterado em 2017 fala de comemoração de aniversário do Maracatu Baque Alagoano. É com muita tristeza que vemos que um evento para reforçar as conexões das pessoas que vivem o maracatu está sendo manchado com acusações temerárias e falsas, justamente no momento em que deveríamos estar nos unindo contra uma série de ataques reacionários que a arte, a cultura popular e a convivência solidária e pacífica das pessoas está sob ataque no Brasil e no mundo.

Esperamos com essa carta ter apresentado os pontos questionados na última semana. Seguiremos na organização do Encontro de Maracatus de Baque Virado, abertos a quem quiser mais informações, como estivemos durante todo o processo, e convidamos todos a estarem presentes na Praça Multieventos, em Maceió, nos dias 18 e 19 de novembro, e na Serra da Barriga, em União dos Palmares, em 20 de novembro.

Asè.
Grupo Percussivo Maracatu Baque Alagoano

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